Certo dia, o dono da quinta dirigiu-se ao seu quintal e encheu um cesto de maçãs. Veio para casa todo contente com a sua colheita: maçãs vermelhinhas e suculentas. Porém, uma delas ficou esquecida no chão do quintal.
Ali permaneceu a tarde toda. Dela aproximaram-se vários animais: moscas, mosquitos, minhocas. Nenhum desses animais conseguiu penetrar na casca da maçã que se mantinha forte e bonita como no momento que o dono a retirou da árvore.
No entanto, os dias foram passando, a maçã sentiu-se cada vez mais esquecida, começou a ficar debilitada. Ela ganhou, finalmente consciência que não conseguiria defender-se muito mais tempo. Assim, a minhoca que nunca saiu daquele lugar, percebeu que a capa linda e forte da maçã começava a degradar-se. Voltou a aproximar-se e, de tanto que tentou, conseguiu furar a casca e alojar-se no interior da fruta comendo tudo o que conseguiu.
Na vida, todos somos maçãs. Todos estamos expostos e sujeitos a que um dia nos abandonem. Mas nós, humanos, não somos dependentes de nada nem de ninguém. Temos as nossas pernas e a nossa força de vontade para nos levarem onde queremos. Se não ficarmos no mesmo sítio à espera que nos venham buscar naquele ponto da estrada em que solitariamente ficamos, podemos voltar a encontrar um caminho. O nosso caminho. Se não perdermos a esperança como a maçã perdeu, se não deixarmos a carência e a podridão tomarem conta de nós, não há animal que nos arranque o que de melhor temos: o nosso ser.
A carência, a vitimização, o sentimento de inutilidade atraem as minhocas e nem a mais bela capa as impedirá que, com o tempo, consigam manipular-nos, minar-nos e arrancarem tudo o que conseguirem.
Que sejamos sempre mais fortes do que todas as forças que tentam derrubar-nos e que tenhamos sempre consciência de quem devemos manter no nosso ciclo de relacionamentos.
Às vezes mais vale ser má com os outros do que ser mazinha connosco próprios.

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