Tenho 32 anos e sou solteira. Por
opção ou falta de opção, isso é irrelevante. O certo é que em nenhum momento
senti desconforto em admiti-lo ou tive medo de passar a minha vida sozinha. Por
outro lado, já me envergonha admitir que as poucas pessoas que deixei entrar na
minha vida, foram dois valentes tiros no pé.
Não sei se sou solteira pela falta
de tempo para conhecer novas pessoas ou se pelo meu feitio “tacanho” de não
deixar nenhum homem aproximar-se sem achar que quer apenas tratar-me como uma
boneca. Não sei se sou eu que bloqueio todo e qualquer contacto com
desconhecidos devido ao passado: confiar nas pessoas erradas trouxe-me uma
descrença na minha capacidade de avaliar o carácter de quem se aproxima. De
tanto pôr as mãos no fogo, acabei por me queimar e as cicatrizes relembram-me
frequentemente de uma dor quase mortal.
Não sei se sou solteira porque
não me habituo à era moderna: não tenho tinder, happen, nem aplicações desse
género. Mas não tenho nada contra! Raramente, muito raramente, falo no chat com
pessoas que não conheça pessoalmente e com quem não tenha algum tipo de relação
(amizade, laboral ou apenas um conhecido). Na verdade, não gosto de mensagens
de chat, sempre preferi o convívio numa mesa de café ou ter os amigos reunidos
em casa, sentados no sofá.
Não sei se sou solteira porque os
meus objetivos não passam por constituir família e ter filhos. Nunca o foram.
Duvido que algum dia venham a ser.
Mas sei que sou solteira porque
ainda não encontrei alguém que me aceitasse como eu sou e que tivesse coragem
para se adaptar aos meus defeitos e dar-me tempo para que eu me adaptasse aos
dele. Sou solteira porque me recuso a entrar em relações só para não estar
sozinha. Na verdade, gosto muito da minha própria companhia e,
independentemente do que o futuro me trouxer, necessito dos meus momentos
solitários.
Sou solteira porque decidi
resolver os meus problemas antes de trazer alguém para a minha vida. Continuo
solteira porque não preciso de ninguém para substituir uma lâmpada, para mudar
de cortinas ou para mostrar às pessoas que alguém “me pega”. As pessoas são
para ser valorizadas enquanto pessoas e não como bonecos de vitrine para
alimentar aparências.
Se acredito no amor? Sempre!
Vejo-o em casais que conheço e com quem tenho muita sorte de conviver. E sei
dizer-vos que sim, o amor existe. E que é maravilhoso ver as pessoas de quem
mais gosto abençoadas com este sentimento.
Se vou ter a sorte de viver um
amor que valha a pena? Não sei, ninguém sabe. Só o tempo dirá. Se gostava?
Houve tempos em que disse que não. Hoje digo que sim, que já limpei do coração
as ervas daninhas que podiam arruinar qualquer futuro.
E se não encontrar ninguém que me
ame? Não faz mal, não morrerei por causa disso. Tenho outros tipos de amor, que
embora não substituam esse amor-amor, são igualmente maravilhosos. E, esses
sim, são essenciais à minha vida.
Se vou continuar a acreditar que
mais vale sozinha do que “mal-acompanhada”? Sim, sempre! Estar sozinha não me
assusta, a opinião dos outros não me interessa, os comentários tantas vezes
maldosos que ouvimos, já não me afetam.
Não acho que haja falta de amor;
acho que há pessoas que não estão dispostas a amar. A admitir o amor. A viver o
amor na sua plenitude. A entregar-se sem reservas. A persistir. A trabalhar a
compreensão, a tolerância, o perdão.
Sou solteira porque o amor para
mim é mais do que aparência, do que uma palavra ou do que dizer: “já não sou
encalhada”.
Sou solteira aos 32 anos mas vou
acreditar no amor. Sempre. Às vezes tenho dificuldade em acreditar nas pessoas,
mas isso já são outros quinhentos.
Feliz dia a todos nós: solteiros
de coração sereno e feliz!