No dia em que guardei a capacidade de sonhar e deitei a
chave da gaveta ao lixo, cometi o maior erro da minha vida. Naquela gaveta
estava uma parte de mim, do brilho dos meus olhos, da esperança que me
preenchia cada milímetro do meu ser.
Às vezes deixamos que as pedras do caminho nos obriguem a
tomar decisões destas. Tão erradas! Deixei os sonhos na gaveta durante uns
meses e asseguro-vos: foram os piores meses da minha vida!
Não sou pessoa de desistir: arregacei as mangas e
"chafurdei" num misto de emoções descontroladas . Procurei o fio de
uma meada tão densa, tão entrelaçada que só de me lembrar fico cansada!
Mergulhei num mar tão gélido quanto enfurecido. Mergulhei, engoli água. Muita
água. Não sabia a sal, sabia a medo, a terror.
A tábua de salvação tinha inscrita a palavra
"Sonhos" mas tudo o que eu via era um pesadelo sem fim.
Aos poucos fui procurando a chave; tentar abrir a gaveta com
um mar tão agitado não deu certo.
Aos poucos deixei a esperança entrar, de tanto bater à
porta, apreciei a sua teimosia. Foi ficando. Com ela vieram os dias mais
harmoniosos, as brisas mais refrescantes. Fui andando, vivendo. Quando dei por
mim, estava de novo a projectar um futuro, a dar asas à minha alma, a traçar um
rumo. Já estava na luta, sempre à minha maneira (da qual muito me orgulho), sem
pisar, enganar ou maltratar uma só pessoa que fosse. Sem me dar conta, eu
estava ali, com a gaveta escancarada e com o peito aberto. Eu estava a viver. A
gaveta, vulgarmente denominada coração, albergava os meus maiores sonhos, os
meus guias, aquilo em que só eu sei acreditar.
Podem um dia voltar a roubar-me tudo. Mas eu sei que
enquanto eu tiver o coração repleto de sonhos, a felicidade está ao alcance da
minha vontade, do meu querer. E enquanto assim for, ninguém me tira a vontade
de conquistar o mundo! O meu pequeno mas valioso mundo!
Feliz dia do Sonho!
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