"O dia mais esperado do último ano chegou!" - foi assim que ela iniciou um post do facebook.
Ansiou por este momento ao longo de todos os momentos desde Maio. Chorou. Chorou muito, com baba e ranho e revolta à mistura.
Viu escapar todos os anseios de trabalhar no que ama fazer e naquilo em que é realmente boa. Viu fugir por entre os dedos as expectativas, a motivação, o sorriso e, por fim, a saúde.
Sofreu. Sofreu muito. Sofreu calada e foi reduzida a uma boneca atrás de um secretária a introduzir dados.
Ela sempre soube. Desde a segunda semana, ela sempre soube. Mas acreditou na pessoa que mais a acompanhou. Infelizmente acreditou na pior pessoa que podia ter confiado.
Evoluiu enquanto pessoa, enquanto colega, enquanto amiga. Hoje está mais fria, mais desinteressada, mais triste. Hoje já não conheço a mulher que virava o mundo por um projecto, que acordava com objectivos e não parava enquanto não os concretizasse. Hoje é meia mulher, meia morta. Meia pessoa e meia máquina.
Hoje posso dizer que mataram a minha amiga com constantes puxões de tapete. Com injustiças que querem que ela engula. Hoje sei que ela morreu. E que tem consciência que lhe roubaram o acesso a qualquer outro sítio.
Mataram-na. E muitos assistiram e nada fizeram.
Mataram os seus sonhos a troco de uns míseros tostões. Mataram a criatividade de um ser com um talento sem limites.
Hoje é o dia em que eu quero fazer um apelo:
"Sandrinha, volta à vida, por favor! Quem te merece não suporta ver tanta dor. E quem te mata não merece nem mais um esforcinho teu."
Hoje quero festejar contigo o fim da tua decadência. Amanhã quero um murro na mesa e que a tua garra sobressaia."
Foi este o testamento que me enviaram às seis da tarde. Foi este o testemunho de alguém que sabe que a minha vida perdeu todo o sentido.