terça-feira, junho 20, 2017

O que é a Coragem?


Na semana passada perguntaram-me onde se vai buscar coragem para mudar de emprego. Respondi que não sou a pessoa indicada para responder a esta pergunta pois eu não mudei, eu fui “obrigada” a mudar. A minha saúde física e psicológica estava doente há meses. Devia ter coragem de mudar antes. Não o fiz; eu também não sabia onde estava essa coragem que tantos procuram.

A dada altura tive de dar um murro na mesa. Tive de mudar a minha vida e saltar para um poço cujo fundo não se vislumbrava. Preparei-me para abdicar de uma estabilidade financeira que demorou anos a construir. Mentalizei-me que os dias seriam preenchidos a bater portas e a sentir-me a mais inútil das pessoas, a mais chata das amigas e a mais rabugenta namorada. O pessimismo e a incerteza apoderar-se-iam de mim e a ansiedade dispararia. Foi então que olhei para o meu umbigo e percebi que, mesmo estando ainda empregada, eu já estava neste ponto. O meu mundo já tinha ruído há muito tempo e só eu ainda não tinha dado conta da quantidade de degraus que tinha descido e dos buracos que tinha cavado ao continuar num emprego que em nada me dava alento. As idas ao médico eram frequentes: amigdalites, hemorragias, viroses, …

Um dia, prestes a vivenciar uma mudança drástica da empresa, decidi que tinha mesmo de abandonar o barco ou então naufragaria. Não era eu ou o meu profissionalismo que estávamos em causa; era a minha saúde e dela eu não estava mais disposta a abdicar. Pela primeira vez redigi uma carta de rescisão de contrato. Pela primeira vez, eu tinha decidido saltar para o desconhecido e enfrentar as consequências. Chegar a este ponto não é uma questão de coragem; é uma questão de sobrevivência.

Coragem teria sido bater com a porta logo que me apercebi que a mentira, a manipulação e a falta de respeito seriam uma constante. Coragem teria sido denunciar o meu suposto estágio profissional para aperfeiçoar e adquirir mais competência na minha área em vez de servir para substituir a licença de maternidade de alguém e/ou para elaborar tabelas em excel que ninguém queria fazer.

Coragem teria sido olhar mais por mim e pela minha vida. Pela minha saúde. Pela minha estabilidade emocional. Isso sim, seria coragem. No entanto, se houve algo que aprendi com esta etapa da minha vida foi que a luzinha nunca deixa de brilhar; umas vezes perde intensidade, mas nunca se apaga. O talento, o conhecimento, o profissionalismo não se perdem com duas tretas e só depende de nós dar-lhes o destaque merecido. Estudei, trabalhei, pesquisei e observei colegas da área. Fui vendo o que outras empresas faziam, quando e como o executavam, fui estando a par do que o mercado pretendia. Pedi ajuda, atualizei-me, apostei no marketing pessoal. Toda esta busca resultou em quatro dias de desemprego. Ao quinto dia já eu estava a entrar num mundo novo.

Quando olho para trás percebo que a minha carta de rescisão foi, na verdade, a melhor e mais consciente decisão da minha vida pecando apenas pela morosidade. Por isso, quando alguém solicita a minha opinião sobre o que deve, ou não, fazer, eu apenas peço que parem, coloquem os aspetos positivos e negativos na balança. Só perante este exame de consciência é que a decisão deve ser tomada. Cada um de nós, melhor do que qualquer outra pessoa, sabe o caminho a seguir: aquele que nos faz sentir mais felizes, realizados, produtivos, saudáveis e com vontade de conquistar o mundo.


Como nos diz o filme Forrest Gump: “a vida é como uma caixa de chocolates, nunca sabemos o que vamos encontrar”. A coragem é mais ou menos isto: abrir a caixa mesmo sem saber o seu conteúdo. E ter a esperança de que sejam os nossos chocolates preferidos.

segunda-feira, junho 19, 2017

Pelas Pessoas de Pedrogão Grande


Perante um cenário tão cruel hesitei redigir o que quer que seja. Não pelo seu carácter mediático, mas pelo facto de se terem perdido dezenas de vidas humanas, outras tantas estarem feridas e inúmeras sem abrigo. Vidas reduzidas a cinzas. Vidas desfeitas. Pais que ficaram sem filhos, filhos que ficaram sem pais. Amigos que já não vão mais jantar juntos. Famílias que não serão mais as mesmas. Vidas perdidas, vidas estragadas, vidas destruídas. Efeitos deste episódio que serão relembrados e revividos diariamente até ao fim dos seus dias.
Eventualmente chegará o momento em que a revolta dará lugar à saudade e a angústia ao recomeço. Mas até lá há tanto para (re)fazer, tanto para (re)erguer. Por muito que se considere que bens materiais são apenas bens materiais recuperáveis, neste momento é tudo muito difícil de assimilar e impossível de aceitar.
Falamos de pessoas que demorarão muito tempo até conseguirem dormir sem pesadelos, acordar sem angústia e viver sem ver o fogo e o manto negro em cada esquina.
Há tanto para fazer naquela região e com aquelas pessoas. Sei que já muito se fez e muito continuará a ser feito. Somos um povo de coração grande e de atitudes dignas de um nobel. Continuemos, cada um à sua maneira, a dar o nosso contributo: seja com dinheiro, comida, palavras ou abraços.
Sejamos humanos, solidários e abracemos esta causa. Há muitas pessoas a precisar de afetos, de ombros para chorar, de ouvidos que escutem e olhos que chorem com elas. Há uma imensidão de terra queimada e de pessoas com o coração destruído por tanta dor. É só nisto que consigo pensar: na quantidade de esperança que será necessário levar até esta gente tão injustamente fustigada…  
Pedrogão Grande precisa de todos e nós temos tanto a refletir com esta tragédia. Lembremo-nos: a vida é breve, imprevisível e frágil. Os laços de afeto são eternos, fortes e inesquecíveis. 
Sejamos então um coração aberto para estas pessoas a quem a tragédia roubou tanto.

quinta-feira, junho 15, 2017

Parabéns, Pai!

Parabéns, pai. Parabéns pelos seus teus 18 anos! Perdão, pelos teus 81 anos!
Parabéns pelo sorriso, pela força, pela vontade com que abraças os desafios. Pelas lindas lições que nos deste através do teu exemplo, do caminho que foste fazendo nesta viagem alucinante que é a vida. 
Obrigada pela sabedoria de nos atirares ao mar para que nos tornásemos bons marinheiros. Obrigada por teres confiado nos nossos passos, nas nossas decisões e por nos teres dado a liberdade para escolhermos os nossos caminhos. Obrigada pelo carinho, pelo abraço acolhedor e pelo amor, esse grandioso amor, que tanto nos aquece o peito. 
Obrigada por teres agarrado a vida e nos permitires festejar mais um aniversário contigo.
 
Não sei se é possível existir felicidade maior do que ver os que amamos saudáveis mas se há, não preciso dela; para mim basta este laço que temos e vivemos. 

Não são 18; são 81. 81 primaveras do espírito mais jovem, mais forte, mais resiliente e mais assertivo. 81anos de muitos altos e baixos, de alegrias e desespero. 81 anos de muito trabalho e dedicação aos teus princípios e a todos nós. 
Quanta sorte tive na vida por me escolheres para ser tua filha. Quanta sorte eu tive por ter um pai como tu! 
Tenho 31 e quando olho para nós desejo apenas que a vida continue a dar-me a certeza de que andaremos sempre de mãos dadas e de corações em sintonia. 
Não tenho vergonha de o assumir, sou a menina do papá. E sorte a minha ter um que mesmo sem capa, é um herói. 
Parabéns Pai! Contigo sei que o mundo é um lugar melhor! 

terça-feira, junho 13, 2017

Incerteza do Destino

 Não sei se o caminho que sigo é o mais acertado mas sei que o facto de não estar parada é, por si só, uma atitude que me levará onde sou feliz.
Às vezes não precisamos de aplausos nem de ter um percurso sem percalços. Precisamos apenas de manter o equilíbrio, o movimento, a cabeça alinhada com o coração e a energia em ação.
Não precisamos de apertos de mão nem de palmadinhas de felicitação. Precisamos saber que independentemente de termos a oportunidade de estar do outro lado do mundo, a nossa felicidade resume-se a estar perto.
Não, eu não tenho a certeza sobre o amanhã. Sobre o amor, a amizade ou a vida. Não, não tenho grandes certezas, confesso. E é esta areia movediça na qual vivemos que me faz descer do meu mundo encantado dos sonhos e perceber o que é, efetivamente, importante: o agora, o caminho, o suave gesto de apreciar a paisagem, independentemente de qual for o destino.
Às vezes admitir que não sabemos para onde vamos ou para onde queremos ir, já é meio caminho andado para chegarmos onde queremos. E acertar as velas do barco enquanto ouvimos o nosso coração é a atitude que nos faz chegar lá.
Às vezes demoramos um mês, outras demoramos um estação. O importante é manter o movimento e ouvir o que não podemos, de modo algum, calar.
Hoje não sei se estou mais perto. Hoje só sei que estou mais feliz.

quinta-feira, junho 08, 2017

Auto Retrato - A Amiga

Do dia em que eu nasci nada me recordo mas sei que foram traçados vários destinos e responsabilidades. Para mim e para os meus.
Não sou uma amiga ideal: tenho os meus momentos de euforia, de diversão mas sou muito mais a amiga que prefere um jantar caseiro, uma boa conversa regada com risos e carinho. Sou uma bela adormecida que antes da meia noite já necessito de colocar palitos nos olhos para me aguentar sem cair de sono.
Sou a amiga que se queixa dos kg a mais mas que desencaminha os restantes para a ingestão de fast food, crepes e gelados. Para cafés ao ar livre e para waffles com morango e chantilly.
Sou a amiga cheia de fobias que não alinha numa tarde de desportos radicais nem numa visita a grutas. Algumas vezes falto a compromissos devido aos meus medos e preocupações. agendar viagens comigo é um risco.
Sou a amiga que desmarca saídas para cuidar dos sobrinhos, para escrever textos ou para distribuir revistas.
Sou uma amiga independente financeiramente mas dependente de carinho, atenção e amor. Sou a amiga disponível para abrir a alma, o coração, a carteira e até a caixa da arma de fogo sempre que se metem ou ferem as minhas pessoas.
Sou leal, guardo na gaveta mais fechada do meu coração o bem que me fizeram as pessoas que já não fazem parte do meu quotidiano.
Sou justa e gosto que sejam justos comigo: se dou 100% de mim a um amigo, não me contento com menos do que isso.
Sou compreensiva. Aceito que me coloquem de parte temporariamente por não terem paciência para aturar os meus delírios, desde que me expliquem que o motivo é este. (Reconheço que não é fácil viver com pessoas como eu).
Sou sincera e de mim podem contar sempre com a verdade. No entanto, meço com muita atenção o que digo, a quem digo e onde digo. Nem sempre sou bem interpretada e tento explicar. Perceber o meu ponto de vista não é para quem quer; é para quem é inteligente.
Tenho toda a paciência para quem gosto. Tenho todo o amor do mundo para as pessoas que despertam o melhor que há em mim. Tenho carinho, abraços, sorrisos, mimos e motivação para dar e vender a todos aqueles que me fazem bem.
Não sou a amiga perfeita mas todos os dias luto para regar e construir as amizades mais duradouras e saudáveis com as minhas pessoas, aquelas que também têm os seus Quês particulares, as suas individualidades, qualidades menos boas ou características insuportáveis. Não os critico, não os condeno, não os julgo. Respeito-os. Defendo-os. São as minhas pessoas, são os meus amigos.
Não sou a melhor amiga de ninguém nem tenho nenhum (a) melhor amigo (a). Para mim são todos os melhores, não porque são meus, mas porque despertam em mim o melhor que posso ser.

segunda-feira, junho 05, 2017

A Luna e Eu

Vi-te e apaixonei-me.
Pequenina, envergonhada, assustada e mesmo assim conquistaste a minha vida. Senti um medo apoderar-se de mim; um medo que não fosse capaz de te alimentar, mimar e trata de ti como é suposto. Tive e tenho receio de não conseguir acalmar-te e provar-te que te escolhi com o intuito de te fazer feliz.
Ontem, hoje e sempre!

Peguei em ti, mostrei-te que tinhas direito a tudo. Alimentei-te no meu colo e adormeceste. Fiquei ali, imóvel a observar-te e a desejar que sejamos as melhores amigas.
Eu digo que te escolhi mas na verdade acho que foste tu que me escolheste a mim: és assustada, resingona, brincalhona e teimosa. Gostas de mimo e de liberdade.
 
Ver-te saltar, correr e miar é das coisas que mais me acalma.
 
Vamos cuidar uma da outra e descobrir que estamos juntas para sermos felizes, sim?

quinta-feira, junho 01, 2017

Criança de Amor


Os dias mais floridos de Primavera transportam-me para aquela época maravilhosa das nossas vidas: a infância. É na infância que o mundo se apresenta com toda a sua beleza e esplendor. Época fecunda em amigos, risos e brincadeiras, momentos e acontecimentos que vão formatando o nosso olhar sobre o que nos rodeia.
É uma época mágica na qual os sonhos são feitos de algodão doce: leves, simples, tão fáceis de alcançar. É o momento da simplicidade, da leveza e do amor mais puro, inocente e delicado.
Quando passo pelo parque lembro-me que eu também já fui criança e que os adultos não me devolviam o sorriso que energicamente lhes dirigia. Nunca consegui entender por quê e ficava deveras aborrecida. Afinal, a vida era bonita e recheada de amor. O que podia ser mais importante do que isso?
Não compreendia a pressa, os gritos e a falta de atenção que as pessoas apregoavam aos sete ventos. Não compreendia a tristeza nos olhos dos meus amigos da escola, dos colegas de carteira. Não compreendia como é que as minhas amigas preferiam uma mochila nova se o pai nunca a vinha buscar à escola. Afinal, eu tinha sempre os materiais escolares mais feios mas os meus pais tinham sempre tempo para mim.
Quando eu era criança só via amor e mesmo sabendo que as dificuldades existiam, sempre achei que uma família munida de amor era capaz de aniquilar qualquer ameaça.
A adolescência, período conturbado da vida de qualquer pessoa, obrigou-me a entender um mundo mais sombrio. Compreendi aqueles olhares sisudos, fechados, tristes. Compreendi que há vidas más. Pessoas más. E questionei-me inúmeras vezes: “como é que a infância não me deixou ver isso?”
A resposta foi sendo desfolhada aos poucos, já enquanto adulta: fui polvilhada de carinho e amor. Pelos meus avós, pais, professores e amigos. Foi assim que me ensinaram a ver o mundo e é esta a certeza que levo pelos trilhos da vida sempre que a maldade toma as rédeas da situação: a de que o carinho cura e o amor torna a vida mais doce.

(Revista Spot Junho 2017)

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