Na
semana passada perguntaram-me onde se vai buscar coragem para mudar de emprego.
Respondi que não sou a pessoa indicada para responder a esta pergunta pois eu
não mudei, eu fui “obrigada” a mudar. A minha saúde física e psicológica estava
doente há meses. Devia ter coragem de mudar antes. Não o fiz; eu também não
sabia onde estava essa coragem que tantos procuram.
A
dada altura tive de dar um murro na mesa. Tive de mudar a minha vida e saltar
para um poço cujo fundo não se vislumbrava. Preparei-me para abdicar de uma
estabilidade financeira que demorou anos a construir. Mentalizei-me que os dias
seriam preenchidos a bater portas e a sentir-me a mais inútil das pessoas, a
mais chata das amigas e a mais rabugenta namorada. O pessimismo e a incerteza
apoderar-se-iam de mim e a ansiedade dispararia. Foi então que olhei para o meu
umbigo e percebi que, mesmo estando ainda empregada, eu já estava neste ponto. O
meu mundo já tinha ruído há muito tempo e só eu ainda não tinha dado conta da
quantidade de degraus que tinha descido e dos buracos que tinha cavado ao
continuar num emprego que em nada me dava alento. As idas ao médico eram
frequentes: amigdalites, hemorragias, viroses, …
Um
dia, prestes a vivenciar uma mudança drástica da empresa, decidi que tinha
mesmo de abandonar o barco ou então naufragaria. Não era eu ou o meu
profissionalismo que estávamos em causa; era a minha saúde e dela eu não estava
mais disposta a abdicar. Pela primeira vez redigi uma carta de rescisão de
contrato. Pela primeira vez, eu tinha decidido saltar para o desconhecido e
enfrentar as consequências. Chegar a este ponto não é uma questão de coragem; é
uma questão de sobrevivência.
Coragem
teria sido bater com a porta logo que me apercebi que a mentira, a manipulação
e a falta de respeito seriam uma constante. Coragem teria sido denunciar o meu
suposto estágio profissional para aperfeiçoar e adquirir mais competência na
minha área em vez de servir para substituir a licença de maternidade de alguém
e/ou para elaborar tabelas em excel que ninguém queria fazer.
Coragem
teria sido olhar mais por mim e pela minha vida. Pela minha saúde. Pela minha
estabilidade emocional. Isso sim, seria coragem. No entanto, se houve algo que
aprendi com esta etapa da minha vida foi que a luzinha nunca deixa de brilhar;
umas vezes perde intensidade, mas nunca se apaga. O talento, o conhecimento, o
profissionalismo não se perdem com duas tretas e só depende de nós dar-lhes o
destaque merecido. Estudei, trabalhei, pesquisei e observei colegas da área.
Fui vendo o que outras empresas faziam, quando e como o executavam, fui estando a par do que o mercado
pretendia. Pedi ajuda, atualizei-me, apostei no marketing pessoal. Toda esta
busca resultou em quatro dias de desemprego. Ao quinto dia já eu estava a
entrar num mundo novo.
Quando
olho para trás percebo que a minha carta de rescisão foi, na verdade, a melhor
e mais consciente decisão da minha vida pecando apenas pela morosidade. Por
isso, quando alguém solicita a minha opinião sobre o que deve, ou não, fazer, eu
apenas peço que parem, coloquem os aspetos positivos e negativos na balança. Só perante este exame de consciência é que a decisão deve ser tomada. Cada um de nós, melhor do que
qualquer outra pessoa, sabe o caminho a seguir: aquele que nos faz sentir mais
felizes, realizados, produtivos, saudáveis e com vontade de conquistar o mundo.