Perante um cenário tão cruel hesitei redigir o que quer que
seja. Não pelo seu carácter mediático, mas pelo facto de se terem perdido
dezenas de vidas humanas, outras tantas estarem feridas e inúmeras sem abrigo.
Vidas reduzidas a cinzas. Vidas desfeitas. Pais que ficaram sem filhos, filhos
que ficaram sem pais. Amigos que já não vão mais jantar juntos. Famílias que
não serão mais as mesmas. Vidas perdidas, vidas estragadas, vidas destruídas.
Efeitos deste episódio que serão relembrados e revividos diariamente até ao fim
dos seus dias.
Eventualmente chegará o momento em que a revolta dará lugar
à saudade e a angústia ao recomeço. Mas até lá há tanto para (re)fazer, tanto
para (re)erguer. Por muito que se considere que bens materiais são apenas bens
materiais recuperáveis, neste momento é tudo muito difícil de assimilar e
impossível de aceitar.
Falamos de pessoas que demorarão muito tempo até conseguirem
dormir sem pesadelos, acordar sem angústia e viver sem ver o fogo e o manto
negro em cada esquina.
Há tanto para fazer naquela região e com aquelas pessoas. Sei
que já muito se fez e muito continuará a ser feito. Somos um povo de coração
grande e de atitudes dignas de um nobel. Continuemos, cada um à sua maneira, a
dar o nosso contributo: seja com dinheiro, comida, palavras ou abraços.
Sejamos humanos, solidários e abracemos esta causa. Há
muitas pessoas a precisar de afetos, de ombros para chorar, de ouvidos que
escutem e olhos que chorem com elas. Há uma imensidão de terra queimada e de
pessoas com o coração destruído por tanta dor. É só nisto que consigo pensar:
na quantidade de esperança que será necessário levar até esta gente tão
injustamente fustigada…
Pedrogão Grande precisa de todos e nós temos tanto a refletir
com esta tragédia. Lembremo-nos: a vida é breve, imprevisível e frágil. Os
laços de afeto são eternos, fortes e inesquecíveis.
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