sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Carta Aberta às Sandrinhas

Se eu pudesse dirigir-me a mim própria nesta altura era isto que eu diria e começaria sem dó nem piedade. Nua e crua:

"Estas sufocada. Triste e cansada. Já eu e todos os teus amigos notamos isso. Estás a absorver todo e qualquer sinal negativo; tudo o que te deixar o dia mais negro. Até aqui tudo normal, há milhares de Sandrinha assim.
Mas achas bem estares a viver desse modo tão ansioso e estressante se nunca ganhaste tão pouco? Achas bem estares a absorver tanta revolta, tanto desespero por não conseguires cumprir um prazo? Por não conseguires beneficiar as pessoas que te roubaram os teus objectivos ? Achas bem ir para casa chorar, berrar ou gritar com as pessoas que te querem bem? Achas bem dizerem-te que precisas de parar, de tomar vitaminas, de fazer os teus exames de rotina e tu dizeres que não tens tempo porque não podes faltar ao trabalho? Achas bem? Achas?

Achas bem sentires a frustração galopar cada dia mais quando te são dados objectivos mas não te dão acesso aos recursos para os atingires?
Achas bem dares tanto por quem não tem consideração nem respeito por ti?

Achas bem não teres vontade de estar com os teus amigos nem com as tuas crianças que tanto significam para ti? Achas bem não te apetecer acordar, vestir ou tomar banho? Achas bem sentires irritabilidade só porque ainda faltam cinco minutos para terminar o teu programa preferido?
Achas bem rejeitares convites para almoçar porque tens de ficar no escritório a trabalhar? Achas bem, achas? ACHAS?

Todos temos um limite. Ontem tiveste consciência que chegaste ao teu. Sem paninhos quentes e sem desculpas. Está na hora de dar a volta. De pensares em ti, de pensares na tua vida, nos teus objectivos, nas tuas pessoas. Nas coisas que mais te dão prazer. Recomeça essa procura pela tranquilidade que tanto apreciada. Recomeça a viver de acordo com os teus princípios, sem medo. Sem rancor. Sem comparações. Sem medo do desconhecido.
A vida é tão curta e tão breve. Tão frágil, tão sublime. Achas bem vivê-la do modo que tens vivido? Ou melhor, achas bem desperdiçá-la do modo como o tens feito? Não sei se tenho mais vergonha de quem te leva a isso ou do facto de tu permitirem que tal aconteça. Mas sei que é dia de viragem. E que aquilo que te dilacera está a chegar ao final.
És feita de carne. Não vivas como se fosses de ferro!

O teu pai todos os dias vence o cancro. Se te deixares morrer, já imaginaste o sofrimento dele? Se a tua mãe luta todos os dias para te dar um futuro melhor, já imaginaste a dor agonizante dela se tu morreres?

quinta-feira, fevereiro 04, 2016

Dia Mundial da Luta Contra o Cancro

Se eu pudesse pegava na varinha mágica e pintava os prados verdejantes. Sorria para as crianças enquanto tirava um coelho da cartola. 
Se me concedessem um desejo, nem que fosse apenas um, eu não queria o euromilhões. Não queria a vida perfeita. 

Se eu pudesse desejar algo com todas as minhas forças, eu sei bem o que desejaria: que o cancro morresse. Sem ele, eu sei que teria os meus por mais tempo e com mais saúde. 
Foi ele quem mais familiares me levou. Foi ele que me fez ver amigos da minha idade partir. Foi ele que matou uma parte de mim. Foi ele que me ensinou, a par de uma ansiedade cruel, que de um momento para o outro tudo muda. E que garantido é apenas o momento presente. 
Não somos nada mas ao mesmo tempo somos tudo. Não temos nada mas acabamos por ter uma grande riqueza: o tempo e isso significa que temos um bem precioso. 
Pensamos que temos a vida inteira e um dia ele assalta-nos. E destrói quem rodeia um doente com cancro. Mas também ensina de que matéria é feita a esperança. 
Mesmo sabendo que o cancro mata, eu arrisco-me a dizer que ele nos dá grandes chapadas. Das más. Das feias. E quem presencia uma luta destas, seja ela inglória ou bem sucedida, nunca mais é a mesma pessoa. 
Hoje em vez do coelho da cartola, eu gostava mesmo de matar o cancro. Assim,a sangue frio. Assim,sem dó nem piedade. Assim, matá-lo rápido. Aniquilá-lo. Perfurá-lo. Destruí-lo. Matá-lo simplesmente. 
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