Quando olho para os últimos 12 meses lembro-me dos piores puxões de tapete que já tive na vida.
Lembro-me da autenticidade que me tem sido roubada e que eu, passivamente, fui permitindo.
Comecei o ano de peito aberto para a vida e para as pessoas. A medo e sem saber o que se avizinhava fui dando, ajudando, apoiando. Conclusão: lixei-me.
Continuei a minha caminhada por hospitais com uma das provas mais duras em Fevereiro. Quis o destino que, apesar do susto, a vida continuasse sem sobressaltos.
Continuei com os puxões de tapete a nível profissional com entrevistas de emprego tão desfazadas quanto surreais. E com a certeza que não fiquei no único sítio que ainda hoje gostaria de ter ficado: no departamento de marketing da Aldo.
Andando mais no ano, veio aquilo que eu achei que seria a minha oportunidade. Veio a revelar-se no futuro como sendo o maior presente envenenado ao longo dos meus 30 anos de existência.
Chega o Verão e eu sem férias. Cansada, revoltada, desgastada. E então a vida trouxe-me a certeza de que a nível sentimental, há coisas que nunca mais se encaminharão. Em mim. Porque não me faz mais sentido. Ponto. Ponto final.
E quando me preparo para festejar o meu aniversário cheia de alegria, motivada, feliz, a vida presenteia-me com um cancro na laringe do meu pai. E foi então que passei a verbalizar das mais diferentes formas o meu maior receio: "O meu pai tem cancro". Entre lágrimas, sem voz, em abraços, de olhos no céu ou no chão,... foram muitas as formas em que disse esta frase. E foi então que eu soube o que era ter esperança e fé num momento onde tudo isso parece vazio e sem sentido.
Hoje a situação está resolvida a custo de uma traqueostomia que nos obrigou a uma adaptação difícil e completamente aterrorizadora para o meu herói. A vida continua e ele também. Entre uma ou outra lágrima lá segue à espera do dia em que volte a conseguir falar. E a revolta cresce à medida que sinto que houve negligência médica dos primeiros otorrinos que consultamos. Se fosse fácil de provar e ele não tivesse de se expor muito, eu processaria esses médicos pois com um diagnóstico numa fase inicial, o meu pai não teria de ser taqueostomizado.
Adiante, avancemos na narração que este assunto tem pano para mangas e noutro post falaremos.
Nesta altura de desnorte houve poucas pessoas que sabiam o que se passava. Houve muitos braços abertos mas poucos me chegaram. E até neste momento eu senti quem estava quem não quis estar e quem quis mas não teve coragem. Doeu muitas vezes saber que aquelas pessoas não estavam quando eu mais precisei.
Oh se doeu.
No dia em que a vida ainda me puxou mais o tapete tive vontade de esbofetear uma pessoa e de lhe dizer umas quantas verdades que só alguém mimado e desleal merece ouvir. Uma pessoa por quem fiz tanto e hoje em dia só gosta de me desmotivar. E estava a conseguir.
De 2015 levo muito. Muitas dores, muitas lições. Muita revolta que me esforçarei por aqui deixar. Este foi um dos piores anos que vivi. Mas não é por isso que deixarei de lhe apontar coisas boas. Em cada um destes pontos, eu encontrei um motivo para "agradecer" por estar a viver aquilo.
Não fosse o meu esforço e aprendizagem contínua, eu não teria aguentado todo este ano sem me intoxicar em medicação ou sem enlouquecer. Não tomo nada, só excesso de felicidade nos momentos de lazer que me permito viver.
Entre lágrimas e sorrisos, 2015 tirou-me o chão mas ensinou-me que eu até posso voar. E para 2016 só preciso de coragem e determinação pois quem veio até aqui também irá até ao fim do mundo. Dizem que uma estrada sem saída é sempre um bom caminho para recuar. Se até para nascer temos de dar a volta, o que poderia eu fazer com as desilusões de 2015 senão encarar tudo com um sorriso, com esperança e com garra?