"Ensinamos aos outros aquilo que mais precisamos de aprender", já Martinho Lutero dizia.
Eu passo a vida a dizer aos meus (e a vocês) a importância do momento presente, que somos instantes e que estamos de passagem.
Passo o tempo todo a dizer que nada é garantido, que tudo o que temos nos é emprestado e que no dia em partirmos, ficam apenas as boas memórias que deixamos nos corações de quem se cruza connosco: se deixamos cicatrizes ou marcas de amor, isso só depende de nós.
Num gesto quase rotineiro relembro-vos da efemeridade do que vivemos. Relembro-vos da importância de um abraço, de um ombro amigo, de uma palavra de incentivo.
Mas nunca, como hoje, senti o mundo esvair-se pelas mãos. Nunca, como hoje, tinha sentido o peso da responsabilidade que é magoar fisicamente alguém. Nunca, como hoje, senti essa realidade que vos transmito e na qual acredito. Nunca, como hoje, tinha percebido o que é sentir a vida a fugir entre os dedos.
Esta manhã, no itinerário que percorro diariamente perdi o controlo do meu carro. E só por sorte não feri ninguém. Só por sorte não estraguei a sexta feira a pessoas que não tinham culpa nenhuma. Só por sorte não me magoei.
Só por sorte o veículo que vinha atrás de mim parou a tempo. Só por sorte os veículos da faixa contrária desapareceram. Só por sorte aquele momento se transformou em magia sem qualquer dano físico a lamentar.
Só por sorte continuo com o coração a bater num sossego desassossegado que tanto me caracteriza.
Só por sorte e porque pedi muito à vida para me dar mais uma oportunidade para viver tudo o que ainda quero.
Nunca como hoje me senti tão pequenina, tão frágil e tão feita de instantes.
Nunca como hoje me senti tão corajosa para lutar pelo que quero. Nunca como hoje me fez tanto sentido agradecer por tudo o que tenho.
Só por sorte estas palavras vos chegam hoje. Não se prendam a elas. Vistam o casaco, enfrentem a vida e sejam felizes.