sexta-feira, novembro 17, 2017

Heróis prematuros - Lição do Dudu

Já vos falei do Dudu? Um menino que pesava 700 gramas quando nasceu? Um menino que me acordou, aos gritos, quando eu estava numa cama de hospital? Um menino que correu, gritou e foi buscar o médico porque a "Nina tinha dói dói"?
Já vos disse que ele tentou ensinar-me uma das maiores lições da minha vida?
O Dudu correu, abriu portas e só sossegou quando o médico veio ao pé de mim juntamente com a sua mãe. 
Eu estava bem, estavam apenas a administrar-me soro. Mas o Dudu não sabia. 
O Dudu nasceu prematuro, foi submetido a inúmeras cirurgias e, com 2 anos, estava ali, a sorrir, a correr, a gritar a AMAR a vida.

Chorei muito ao saber deste início de vida tão inconstante, onde a incerteza e angústia marcam presença assídua. Mas ele não chorava; ele ria, corria, abraçava-me e vivia.
A mãe do Dudu percebeu a minha perplexidade e contou-me os primeiros anos de vida do Dudu. Falou-me com uma ternura característica de uma mãe que já trata a vida por tu: "aprendemos a deixar o nosso filho no hospital sem saber se voltamos a vê-lo vivo. Sem saber se no dia seguinte ele estará a recuperar. Deixamo-lo sem poder abraçá-lo. Aprendemos a viver aquele momento presente como o mais valioso de uma vida inteira. Aprendemos a viver um dia de cada vez..."

Aprendi com o Dudu, e com a sua magnífica mamã, que os heróis não vestem uma capa nem lutam com espadas. Os maiores heróis vão à batalha mesmo sem armadura e lutam tanto pela vida que nós, adultos, nem conseguimos entender. Temos tanto a aprender convisco, pequenos-grandes-heróis! Tanto! 
Nunca mais esquecerei o Dudu e tantos outros guerreiros que chegam a este mundo antes do que suposto mas mesmo assim não abdicam do seu lugar. Não abdicam nem por um segundo de espalhar amor. 
Obrigada bebés prematuros! Obrigada pais, mães, familiares e amigos: obrigada por não desistirem de lutar. 
Acredito que o amor vence. Sempre. Ensinou-me o Dudu, um bebé que nasceu com menos peso do que um pacote de arroz. 

sexta-feira, novembro 03, 2017

A uma médica muito Especial

Não sei se há pessoas que nascem para serem médicas mas sei que a Dra Sara Ramalho não podia ter escolhido uma profissão mais acertada. 
Este brilhante ser humano foi a médica que operou, tratou e acompanhou o meu pai durante a maior batalha da vida dele: o cancro.
Há dois anos, a Dra Sara já nos tinha conquistado. Estava eu sentada na sala de Cuidados Intermédios, de olhos fixos no telemóvel a pedir a todos os anjinhos para não chorar ali, à frente do meu pai, quando a vi. Levantei a cabeça e paralisei: num Sábado, ela estava naquela sala para visitar o meu pai. Sempre com a mesma serenidade, com o sorriso mais especial do mundo e com uma confiança inabalável. Curiosamente ainda minutos antes as palavras dela ecoavam em loop na minha cabeça: "o tumor é tratável, está localizado, acredito que o seu pai vai ficar bem. A cirurgia correu bem, isto é normal, ... " Ela foi a minha força, a minha esperança. Sempre, em todas as etapas. Mesmo quando as minhas amigdalites atrapalhavam e os meus medos falavam muito alto.

Ela não sabe mas eu confesso que foi nela que me inspirei para ajudar o meu pai. Ela também não sabe que eu consegui explicar ao meu pai, sem verter uma única lágrima, que ele ia ser operado a um tumor na laringe. No entanto, passei uma semana a evitá-lo, a ganhar coragem para dizer-lhe calmamente que ela ia para longe mas confesso que esta missão falhou redondamente: chorei quando soube da notícia e chorei quando contei ao meu pai.

Ainda hoje as lágrimas rolam pela minha face quando me lembro que ela foi salvar e iluminar outras vidas, um pouco mais longe. E apesar de desejar que ela se sinta feliz e realizada onde está, há um pedacinho do meu coração que anseia que ela sinta tantas, tantas saudades do Norte e volte. Nem que fosse para que eu pudesse vê-la, dar-lhe um abraço e desejar-lhe, olhos nos olhos, toda a felicidade do mundo. E acreditem, desejar-lhe isto ainda é pouco, muito pouco. Ela merece todo o amor, saúde e felicidade que um ser humano é capaz de receber. Merece tudo, tudo, tudo de bom pelo excelente ser humano que é.

"Há pessoas que ficam na história da história da gente", já dizia a Mariza. E a Dra Sara ficará para sempre na nossa como a pessoa mais maravilhosa que tivemos oportunidade de conhecer.
(Pronto, passem-me os lenços que já cá vai um rio).  
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