Já vos falei do Dudu? Um menino que pesava 700 gramas quando nasceu? Um menino que me acordou, aos gritos, quando eu estava numa cama de hospital? Um menino que correu, gritou e foi buscar o médico porque a "Nina tinha dói dói"?
Já vos disse que ele tentou ensinar-me uma das maiores lições da minha vida?
O Dudu correu, abriu portas e só sossegou quando o médico veio ao pé de mim juntamente com a sua mãe.
Eu estava bem, estavam apenas a administrar-me soro. Mas o Dudu não sabia.
O Dudu nasceu prematuro, foi submetido a inúmeras cirurgias e, com 2 anos, estava ali, a sorrir, a correr, a gritar a AMAR a vida.
Chorei muito ao saber deste início de vida tão inconstante, onde a incerteza e angústia marcam presença assídua. Mas ele não chorava; ele ria, corria, abraçava-me e vivia.
A mãe do Dudu percebeu a minha perplexidade e contou-me os primeiros anos de vida do Dudu. Falou-me com uma ternura característica de uma mãe que já trata a vida por tu: "aprendemos a deixar o nosso filho no hospital sem saber se voltamos a vê-lo vivo. Sem saber se no dia seguinte ele estará a recuperar. Deixamo-lo sem poder abraçá-lo. Aprendemos a viver aquele momento presente como o mais valioso de uma vida inteira. Aprendemos a viver um dia de cada vez..."
Aprendi com o Dudu, e com a sua magnífica mamã, que os heróis não vestem uma capa nem lutam com espadas. Os maiores heróis vão à batalha mesmo sem armadura e lutam tanto pela vida que nós, adultos, nem conseguimos entender. Temos tanto a aprender convisco, pequenos-grandes-heróis! Tanto!
Nunca mais esquecerei o Dudu e tantos outros guerreiros que chegam a este mundo antes do que suposto mas mesmo assim não abdicam do seu lugar. Não abdicam nem por um segundo de espalhar amor.
Obrigada bebés prematuros! Obrigada pais, mães, familiares e amigos: obrigada por não desistirem de lutar.
Acredito que o amor vence. Sempre. Ensinou-me o Dudu, um bebé que nasceu com menos peso do que um pacote de arroz.