Se eu pudesse pegava na varinha mágica e pintava os prados verdejantes. Sorria para as crianças enquanto tirava um coelho da cartola.
Se me concedessem um desejo, nem que fosse apenas um, eu não queria o euromilhões. Não queria a vida perfeita.
Se eu pudesse desejar algo com todas as minhas forças, eu sei bem o que desejaria: que o cancro morresse. Sem ele, eu sei que teria os meus por mais tempo e com mais saúde.
Foi ele quem mais familiares me levou. Foi ele que me fez ver amigos da minha idade partir. Foi ele que matou uma parte de mim. Foi ele que me ensinou, a par de uma ansiedade cruel, que de um momento para o outro tudo muda. E que garantido é apenas o momento presente.
Não somos nada mas ao mesmo tempo somos tudo. Não temos nada mas acabamos por ter uma grande riqueza: o tempo e isso significa que temos um bem precioso.
Pensamos que temos a vida inteira e um dia ele assalta-nos. E destrói quem rodeia um doente com cancro. Mas também ensina de que matéria é feita a esperança.
Mesmo sabendo que o cancro mata, eu arrisco-me a dizer que ele nos dá grandes chapadas. Das más. Das feias. E quem presencia uma luta destas, seja ela inglória ou bem sucedida, nunca mais é a mesma pessoa.
Hoje em vez do coelho da cartola, eu gostava mesmo de matar o cancro. Assim,a sangue frio. Assim,sem dó nem piedade. Assim, matá-lo rápido. Aniquilá-lo. Perfurá-lo. Destruí-lo. Matá-lo simplesmente.
Um dia...
ResponderEliminar...deixará de nos levar os que mais amamos...
...a dor que traz desaparecerá...
...quero acreditar...