Os dias mais floridos de Primavera transportam-me para aquela época maravilhosa das nossas vidas: a infância. É na infância que o mundo se apresenta com toda a sua beleza e esplendor. Época fecunda em amigos, risos e brincadeiras, momentos e acontecimentos que vão formatando o nosso olhar sobre o que nos rodeia.
É uma época
mágica na qual os sonhos são feitos de algodão doce: leves, simples, tão fáceis
de alcançar. É o momento da simplicidade, da leveza e do amor mais puro,
inocente e delicado.
Quando passo
pelo parque lembro-me que eu também já fui criança e que os adultos não me
devolviam o sorriso que energicamente lhes dirigia. Nunca consegui entender por
quê e ficava deveras aborrecida. Afinal, a vida era bonita e recheada de amor.
O que podia ser mais importante do que isso?
Não compreendia
a pressa, os gritos e a falta de atenção que as pessoas apregoavam aos sete
ventos. Não compreendia a tristeza nos olhos dos meus amigos da escola, dos
colegas de carteira. Não compreendia como é que as minhas amigas preferiam uma
mochila nova se o pai nunca a vinha buscar à escola. Afinal, eu tinha sempre os
materiais escolares mais feios mas os meus pais tinham sempre tempo para mim.
Quando eu era
criança só via amor e mesmo sabendo que as dificuldades existiam, sempre achei
que uma família munida de amor era capaz de aniquilar qualquer ameaça.
A adolescência,
período conturbado da vida de qualquer pessoa, obrigou-me a entender um mundo
mais sombrio. Compreendi aqueles olhares sisudos, fechados, tristes. Compreendi
que há vidas más. Pessoas más. E questionei-me inúmeras vezes: “como é que a
infância não me deixou ver isso?”
A resposta foi
sendo desfolhada aos poucos, já enquanto adulta: fui polvilhada de carinho e
amor. Pelos meus avós, pais, professores e amigos. Foi assim que me ensinaram a
ver o mundo e é esta a certeza que levo pelos trilhos da vida sempre que a
maldade toma as rédeas da situação: a de que o carinho cura e o amor torna a
vida mais doce.
(Revista Spot Junho 2017)
(Revista Spot Junho 2017)
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