terça-feira, março 31, 2015

Trapézio das Finanças

Quando vejo o desnorte colectivo desta sociedade não sei se choro ou se fujo. Quando vejo a quantidade de dedos apontados a esta geração nova, não sei se os morda ou se os corte às postas. 

O certo, e mais do que provado, é que eu, uma dessas pessoas que rotularam como desinteressadas que não querem trabalhar nem se sujeitam a nada, moro sozinha há dez anos. Por minha conta há cinco. Não tenho ninguém que me arranje um tacho. 
Vivo permanentemente a equilibrar-me com trabalhos precários, mal pagos. Empregos em que por meia dúzia de trocos nos exigem aptidões que nem os nossos superiores têm. 
Vivo em permanente cálculo das despesas que tenho e do que preciso abdicar para conseguir chegar ao fim do mês. Não janto fora sempre que quero, não saio sempre que me convidam. É cada vez mais raro fazer isso. 
Acordo todos os dias com o pensamento de que é hoje que vou mudar a minha vida. E um dia será mesmo o tal. O dia tal. Aquele em que vou provar a mim própria que finalmente consegui. 

E vou provar a todos aqueles que me apontaram o dedo e me acusaram de ser uma das que pertence à tal geração dos que a nada se sujeitam e que ficam à espera que o emprego lhes caia do céu, que afinal, eu até sei viver.  E lutar. E pelo caminho também sei incentivar. Não critico. Acredito em nós. 

Eu sei que somos nós, esta geração, que vai provar o que é saber viver em guerra com o limite zero do cartão de débito (crédito já não é para nós). Sei que somos nós que vamos calar a boca de muitos que tanto nos criticam alegando que não queremos trabalhar. 

Somos uma geração com as portas fechadas mas com força para derrubar portões. Eu já furei alguns. Se não vencermos pela inteligência, venceremos pela persistência.

Não baixo os braços. Seja aqui ou na China. Desistir não faz parte do meu dicionário. E depois de aprender a desdobrar-me nas mais variadas posições e a equilibrar-me no trapézio das finanças, é pouco, muito pouco, o que me assusta na vida. 

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