quarta-feira, março 25, 2015

O dia em que decidi Emigrar...

... para Marte! 
Há pessoas que lutam todos os dias por um objectivo, por um sonho, por um ideal. Todos os dias se mentalizam que no meio de tantos "nãos" e de tantos Puxões de tapete vai chegar o sim. Vai chegar. Sem cunhas, sem ilusões. Sabemos que vai demorar mas não perdemos a esperança que chegue. 

Há pessoas que não deixam de ser elas próprias para conseguirem o que querem. E não passar por cima de ninguém nem usam esquemas. 
E então chega o dia em que nos perguntam numa entrevista de emprego se queremos ter filhos. (Nada que não soubéssemos que acontecia), Mas depois de respondermos que ter filhos não faz parte dos nossos planos, vem a pergunta mais surreal que pensei ouvir: "E se engravidar, o que faz?" Foi nesse momento que dei aquela entrevista como perdida. Irremediavelmente perdida. Dei conta que nem eu própria pus essa questão em cima da mesa. "E se acontecer?" era a pergunta que continuava a sussurrar nos meus ouvidos. 

E pronto, foi o dia em que esmoreci na luta. E passei dois dias incrédula com 70% do que ouvi em vinte minutos. Depois passei mais uns tempos onde me apeteceu escrever uma carta ao Pai Natal. Outra a Madre Teresa de Calcutá. E outra ainda a algum político honesto. Lembrei-me, mais uma vez, da utopia do meu desejo. 

Gostava de saber em que altura perdemos o Norte. Os valores. O respeito pelas escolhas das outras pessoas. Gostava de dizer à pessoa que me entrevistava sem nunca olhar para mim, que teria o bebé. Não porque o planeei ou porque sou contra o aborto. Tê-lo-ia porque queria e isso não faria de mim menos profissional. Sabem quantas mães conheço? Quantas dão tudo o que têm pelas suas carreiras porque têm filhos em casa para educar e criar? Sabem a quantidade de mulheres que vejo deixarem os filhos na escola e  que passam um dia a trabalhar nas condições mais adversas onde são criticadas e humilhadas porque resolveram ser mães, mas mantêm o sorriso? 

Senhores administradores das mais conceituadas empresas: eu não sou mãe. Não pretendo ser. Mas defenderei sempre que as mulheres são livres de tomar essa opção. E que ser mãe não significa ser menos profissional; às vezes até significa muito mais. Ser mãe significa que há alguém que depende do seu suor, do seu trabalho. Há alguém em casa que as admira e quem elas nunca querem desiludir. Uma mãe sacrifica-se a trabalhar mais horas e com mais afinco. Não podem ceder ao luxo de tomar decisões de ânimo leve ou simplesmente faltar ao trabalho. 
Ser mãe não significa ser menos mulher, ser menos profissional. Mas isto sou eu que tenho os valores no alinhamento certo. Sou eu que, mesmo não sendo mãe, defendo o direito de quem o quer ser sem ter de perder empregos. 

Houve um dia em que quis emigrar... para Marte. Aqui não fui feliz. 

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