Gostava de vos dizer uma coisa antes do dia terminar. E gostava de saber que me ouviram com atenção.
Em criança, eu nunca vivi num conto de fadas mas sempre fui a princesa do meu reino. Sempre inventei as minhas brincadeiras, sempre procurei integrar-me nos grupos de amigos que considerei que tinham mais a ver comigo: pelo tipo de brincadeiras, pelos sorrisos, pelas asneiras.
Em criança nunca coloquei em causa a minha importância no mundo. E nem pensava sobre ela. Não pensava se era importante para os de fora, bastava-me ser tudo para os que me tinham dentro do coração: família, professores e alguns colegas/amigos.
Sempre agradeci ser criança e só quando a vida me começou a fustigar severamente é que eu agradeci ainda mais. Com mais convicção, com mais determinação. Aí sim, eu soube o quão feliz foi a minha infância rodeada de amor, de saúde, de carinho, de alegria e inocência típica da idade.
Hoje quero falar-vos do "ponto zero". Aquela pequenina atitude que resulta numa grande felicidade: não deixar morrer a criança que há em nós. Ela sabe sempre qual é o melhor caminho, a melhor alternativa e até a melhor estratégia. Ela sabe sempre o que nos faz sorrir. E é quando começamos a ignorá-la, ou pior, é quando a contrariamos que, muitas vezes, nos perdemos. Eu perdi-me; foi a minha criança interior que me salvou. E é graças a ela que vivo os momentos mais felizes, mais intensos e espontâneos.
Apesar de ser criança, ela não tem de ser imatura; raramente o é se a ouvirmos atentamente. A minha disse-me para ser o que eu quiser. Disse-me que uns vão odiar-me e outros amar-me. Uns vão criticar e outros desejarão um pouco da minha coragem. E não se enganem meus caros: a maior coragem é sermos livres. Fazemos o que queremos, irmos onde precisarmos, estarmos com aqueles que amamos. Lutarmos por tudo o que nos tira os pés do chão.
Eu sou e quero mesmo ser uma eterna criança pois é ela que me faz abrir as asas e voar quando os espinhos cobrem o chão que os meus pés pisam.
E quero acima de tudo ser recordada pela alma espontânea de criança aliada à responsabilidade de ser mulher. Nem mais nem menos. Enquanto assim for, os sonhos serão o meu guia e a determinação o meu combustível.
Era isto o que gostava de vos dizer antes do dia terminar: que deixem a minha criança continuar a sonhar para que a minha mulher possa concretizar. Uma sem a outra não são metade; são só e apenas nada.
Boa noite.

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