domingo, maio 05, 2019

Não somos Mães

Não somos mães. Por diversas razões que nem sempre podemos, ou queremos mencionar, mas não somos. Não sentimos a vida nascer de nós, não vivenciamos o momento mágico de ver o primeiro sorriso de um filho, nem tão pouco sabemos o que é ter um ser maravilhoso que seja tão nosso.
Não vivemos as maravilhas da maternidade mas isso não nos dá o direito de achar que, se fôssemos mães, seríamos melhores pessoas, melhores esposas, melhores cidadãs. Do mesmo modo, o facto de não sermos mães não dá, à sociedade, o direito de nos rotular como egoístas, insensíveis, ressabiadas ou frustradas. Não lhe dá o direito de nos martirizar pelo facto de não termos dado à luz uma, ou mais, vidas.

Quantas de nós, mulheres que não são mães, gostariam de o ser? Quantas de nós choram à noite pedindo um milagre que se tem esquecido de acontecer? Quantas de nós já sentiram aqueles olhares reprovadores quando dizemos que ser mãe não está nos nossos sonhos, não é um dos nossos objetivos de vida? Quantas já tivemos de abdicar da maternidade por questões de saúde ou de natureza económica?

Quantas de nós, mulheres-não-mães, já se sentiram diminuídas nos almoços de família só porque decidimos (ou a vida nos obrigou) a abandonar a ideia da maternidade? Só, tão simplesmente, porque achamos que, efetivamente, não nascemos para ser mães?
Quantas de nós, mulheres-que-desejam-desesperadamente-ter-filhos, tivemos de baixar o olhar quando uma tia nos diz: "a próxima tens de ser tu", e nos lembramos que há dois dias sofremos um aborto espontâneo...
Quantas vezes explicamos as nossas razões para não sermos (ainda) mães e tantas vezes recebemos um olhar de ódio como resposta?

Termos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro é um privilégio negado a muitos mas há situações em que devia ser uma obrigação. Ser mãe não pode continuar a ser uma imposição social, familiar ou cultural. Ser mãe vem do coração, da alma. Do afeto, da verdade.

Mas isto sou eu, que talvez seja limitada e não tenha capacidade para pensar: que futuro tenho para oferecer ao meu filho? Talvez seja um "problema" meu por ser egoísta ao reconhecer que não tenho condições para dar uma vida estável a uma criança. Talvez o "erro" seja meu por não ter carinho, atenção, dedicação e amor suficientes para gerar um novo ser.

Ainda assim, gosto de acreditar, que a vida, apesar das suas linhas tortas e incompreensíveis, lá sabe o que faz. E que o facto de ser uma mulher na casa dos 30's que não deseja ser mãe, só revela a sensatez e ponderação da minha decisão.  Revela as inúmeras vezes em que coloquei essa opção na balança e constatei que para ser mãe (não confundir apenas com o ato de parir) preciso de ser muito mais do que a sociedade impõe. Para ser mãe preciso de tempo para o meu filho, preciso de estabilidade, de resiliência, de tolerância.  Preciso, acima de tudo, de um mar infinito de amor.
Coisas simples, fundamentais, e das quais não abdico para um filho. Mas isto sou eu que penso bem antes de tomar decisões desta natureza. Isto sou eu que vejo, todos os dias, nos olhos das minhas grandes mulheres, tristeza e frustração por não conseguirem ser mães. Isto sou eu que me revolto, profundamente, com a intolerância e falta de empatia no mundo.
Mais do que de crianças, sejamos mães de sentimentos nobres. Mães de compaixão. Mães de empatia. Mães de Amor.

Feliz dia a todas as minhas amigas que sabem ser tão mães, e até melhores, mesmo sem parir.

Que o amor vença sempre, seja qual for a nossa missão. 💖

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